sexta-feira, 11 de maio de 2007
A agenda da Saúde
O novo Ministro da Saúde José Gomes Temporão é peso pesado. Talvez desde José Serra o Ministério não tenha encontrado pessoa do seu calibre. Milita há trinta anos na saúde pública, desde 2003 no atual governo, como diretor do INCA (Instituto Nacional do Câncer) acabando com os problemas que surgiram com as filas de transplante. Os pontos centrais de seu pensamento segurem as modernas linhas da saúde pública mundial, e dos sanitaristas brasileiros em particular – que constituem uma das melhores categorias profissionais do país. Uma primeira questão é a dimensão da promoção da saúde. O Ministério da Saúde é, na verdade, o ministério da doença, diz ele, porque o Brasil não tem política de saúde. Com isso ficam de fora pontos centrais que interferem na saúde, como classes de renda, trabalho, acesso à moradia, cultura, saneamento. Há a necessidade de se trabalhar políticas inter-setoriais, montando interfaces entre saúde e habitação, saúde e saneamento. Por exemplo, os investimentos do PAC em habitação, saúde e saneamento terão um impacto brutal sobre a saúde pública.***Temporão defende que passe a se trabalhar políticas inter-setoriais, com interfaces entre saúde e habitação, saúde e saneamento. O próprio PAC (Plano de Aceleração do Crescimento) terá impacto sobre saúde pública, com seus investimentos em saneamento.Sua idéia é criar um grande movimento nacional de promoção da saúde. E, aí, acaba se enveredando por temas espinhosos, mas fundamentais. Anualmente 35 mil brasileiros morrem por acidente de trânsito, diz ele. O que está por trás? Estradas com má sinalização, sem dúvida. Mas fundamentalmente uso de álcool e outras drogas, e falta de informação e educação do motorista. Em relação ao álcool, Temporão considera inevitável que se restrinja o consumo de bebida em estrada.***No mundo inteiro, saúde é dos setores que mais cria riqueza, conhecimento e emprego. Ao contrário dos bancos e da indústria automobilística, em que se reduz o emprego pelo uso da automação, a saúde é um mercado de trabalho em franca expansão. A população está envelhecendo mais rapidamente. Daqui a vinte anos, serão 30 milhões de brasileiros com mais de 60 anos, mais doença crônica, e mais pessoas para cuidar dessa população, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos, com empregos mais qualificados que a média. *** Há uma dimensão ainda mais relevante que é o da pesquisa. Hoje a saúde responde por 8 a 10% do PIB. Nos hospitais, clínicas e consultórios são 2,5 milhões de empregos diretos. Mais indústria farmacêutica, fabricantes de vacinas, reagentes e material hospitalar, são mais 300 mil, com muitos engenheiros. Além disso, já uma vulnerabilidade crescente na balança comercial do setor. No final dos anos 80 o déficit comercial era de US$ 600 mi, hoje atinge os US$ 5 bi/ano. Metade do mercado de equipamentos médicos é público, assim como 25% do mercado de medicamentos (que movimenta US$ 10 bi ano). O desafio do Ministério será o de articular a capacidade de compra com o Ministério de Ciência e Tecnologia na parte de pesquisa e desenvolvimento e com o BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) na parte de financiamento. - Luis Nassif
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