"Nesse terreno da racionalidade viceja com clareza a noção de que “não existe morte mais evitável” do que aquela resultante do aborto de risco, ou seja, quase a totalidade deles no Brasil, por conta da criminalização do procedimento. Aquilo que nesse campo se faz com segurança em hospitais e clínicas, com toda proteção à saúde da mulher, em suma, aquelas histórias que todas as mulheres com maior grau de escolaridade e renda mais alta por alguma via conhecem, constituem absoluta exceção. E fora desse círculo estrito, abundam os relatos das complicações surgidas, e das mortes daí decorrentes, por conta entre outros fatores das agulhas de tricô, dos talos de plantas e de toda espécie de hastes longas introduzidas no útero para interromper a gravidez da qual sua portadora por alguma razão imperiosa quer, precisa, desesperadamente precisa, se livrar.
Quantas são essas mortes que se poderia evitar no Brasil? Calcula-se conservadoramente que a morte materna no país vitima cerca de 2.300 mulheres por ano. Se aquelas resultantes das complicações do aborto de risco constituem de 15% a 20% desse total, elas se situariam entre 345 e 460 por ano. Mas a mortalidade materna no Brasil é absurdamente subnumerada, adverte Faúndes, gritam muitos outros pesquisadores e pesquisadoras e, em vez de se situar na faixa de 70 por 100 mil, estaria no patamar de 140 por 100 mil, apontam estudos recentes. Se chegaria então a algo entre 690 e 920 mortes evitáveis a cada ano.
O trecho acima faz parte do artigo semanal de Mariluce Moura, jornalista e diretora de redação da revista Pesquisa Fapesp.
quinta-feira, 10 de maio de 2007
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