quarta-feira, 19 de março de 2008

A vida está nas telas

Algumas pessoas dizem que suas vidas dariam um roteiro de cinema. A de um certo francês deu não apenas um filme, mas uma coleção de jóias cinematográficas e uma biografia notável. FRANÇOIS TRUFFAUT — UMA BIOGRAFIA, lançamento da Editora Record, mostra a trajetória de um dos maiores artistas franceses deste século, escrita por duas autoridades no assunto: Serge Toubiana e Antoine de Baecque.

O nascimento em segredo no dia 6 de fevereiro de 1932, uma infância quase clandestina junto a pais hostis: a vida de François Truffaut já começa em clima romanesco. A Paris da ocupação nazista é para ele a época dos pequenos golpes, das amizades para o resto da vida. Leitor ávido, espectador deslumbrado, ele vê e revê centenas de filmes. Aos 16 anos, funda um cineclube e se endivida. A seguir, vêm o rompimento com os pais, o centro de reeducação e a prisão militar.
Mas a personalidade febril de François Truffaut intriga e seduz Jean Genet, Jean Cocteau e, sobretudo, André Bazin, que abre as portas ao cineasta, permitindo que ele escreva nos Cahiers du cinéma. Logo o jovem autodidata torna-se a estrela da crítica cinematográfica dos anos 50, entrando em contato com os mestres que admira: Renoir, Ophulus, Rosselini, Hitchcock.

Os golpes da infância transformam-se em cinema num filme-manifesto. François Truffaut é a ponta-de-lança da nouvelle vague e funda sua produtora, a Films du Carrosse. É, ao mesmo tempo, diretor e amigo das maiores estrelas: Jeanne Moreau, Françoise Dorléac, Catherine Deneuve, Fanny Ardant, entre outras.
"Os filmes são mais harmoniosos que a vida", diria Truffaut. Mas é a vida, a sua vida, o homem sob suas múltiplas facetas, que pode ser percebido através dos personagens de seus 21 filmes: Antoine Doinel, o adolescente de Os incompreendidos; o rapaz de Beijos proibidos, o recém-casado de Domicílio conjugal; Ferrand, o diretor apaixonado pelas atrizes de A noite americana; Bertrand Morane, o sedutor de O homem que amava as mulheres; Julien Davenne, o homem que cultua os mortos, o amigo inconsolável de O quarto verde.

Morto em 1984, vítima de um tumor cerebral, François Truffaut pretendia contar um dia a sua vida. É este o objetivo desta biografia, escrita com base em depoimentos de seus amigos e em seus riquíssimos arquivos pessoais, aos quais se tem acesso pela primeira vez. Antoine de Baecque é historiador e crítico nos Cahiers du cinéma. Serge Toubiana realizou um longa-metragem sobre François Truffaut — Portraits volés — e é redator-chefe dos Cahiers du cinéma.

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