quinta-feira, 20 de março de 2008

Cinema: Chega de Saudade

Sinopse: Num antigo clube, numa única noite, pessoas de todas as idades, da madura Elza (Betty Faria) à jovem Bel (Maria Flor), procuram um par para dançar e um novo amor.

Nome:
Chega de Saudade
Origem: Brasil
Ano produção: 2007
Gênero: Comédia dramática
Duração: 95 min
Classificação: 12 anos
Direção: Laís Bodanzky
Elenco: Maria Flor, Leonardo Villar, Cássia Kiss, Betty Faria, Stepan Nercessian, Tonia Carrero

Raríssimas vezes se vê tamanha e tão sincera exibição das rugas e marcas de expressão de atores maduros, revertendo o padrão onipresente da mídia, sempre obcecada pelas peles lisas e corpos perfeitos dos top models. A câmera do filme (mais um belo trabalho de fotografia do mestre Walter Carvalho) procura, ao contrário, a verdade das pessoas comuns, para quem o tempo passa sem apelação e quase sempre sem a possibilidade do recurso às plásticas.

Como nos painéis múltiplos de Robert Altman, Laís Bodanzky monta o espaço vital em um clube noturno de danças de salão, em que se movem freneticamente o velho casal cheio de mágoas, mas também de ternura (Tônia Carrero e Leonardo Villar); a jovem (Maria Flor) que se entusiasma com a lábia do malandro de salão (Stepan Nercessian), para desespero tanto do namorado ciumento dela (Paulo Vilhena) quanto da mulher com quem ele tem um caso (Cássia Kiss); a madura sensual que ama um homem casado (Conceição Senna), a solitária aflita para quem tudo dá errado naquela noite (Betty Faria); o garçom que tudo vê e acode (Marcos Cesana), como um anjo da guarda sempre em missão.

Não é pouco o que Chega de Saudade faz, ao dar rosto a essas pessoas miúdas e socialmente invisíveis, desafiando a norma não escrita de que aos mais velhos, em geral, se delegue a solidão como forma de vida, como se não tivessem mais sonhos e sentimentos. O filme é uma explícita defesa da liberdade dessas pessoas, de todas as pessoas, aliás, que se recusam a ficar em casa esperando a morte chegar assistindo ao Fantástico.

Premiada em Brasília com o troféu de melhor direção, além do de melhor filme no júri popular e melhor roteiro (Luiz Bolognesi), Laís Bodanzky evolui com segurança a partir da promissora estréia que entregou em Bicho de Sete Cabeças (2001) – grande vencedor em Brasília também, naquela altura com sete prêmios. Laís Sabe o que quer, conduz na mesma batida um elenco ao mesmo tempo grande e de experiências diversificadas e sabe valer-se delas para o conjunto final. Bela maturidade para a diretora. - Neusa Barbosa (CineWeb)

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