. O filme “Tropa de Elite” não é “fascista”, como disse Arnaldo Bloch, no Globo.
. É “f”, mas de Farsa, Fraude, Fantástico.
. A PM não é assim.
. O Bope não é assim.
. A favela não é assim.
. A PUC não é assim.
. O Rio não é assim.
. Nem o livro “Elite da Tropa” é assim.
. O filme é a cópia pirata do livro.
. O livro é a denúncia da corrupção da Polícia do Rio.
. Mas, não, apenas, de um comandante de batalhão da PM.
. O livro denuncia a corrupção do Secretário de Segurança – a cúpula mesmo da segurança do Estado -, que se articulava com a estrutura de poder do Rio.
. Por acaso, um chefe da Polícia Civil do Rio é, neste momento, suspeito de cometer os mesmos crimes do Secretário de Segurança de “Elite da Tropa”, depois de fisgado numa operação da Polícia Federal.
. (Isso, quando a Polícia Federal era, de fato, Republicana.)
. Mais cedo ou mais tarde, este chefe da Polícia Civil de verdade vai ter que se acertar com a lei.
. Em “Tropa de Elite”, a corrupção fica lá embaixo na hierarquia, não chega a ameaçar a reputação da elite da Polícia (ou da elite, de maneira geral).
. O filme trata de uma corrupção pé de chinelo.
. O argumento central do filme fica abaixo da linha da pobreza da criatividade: um oficial do Bope está para ser pai, entra em parafuso e procura um substituto ... É isso.
. O resto é bala.
. Porém, a favela não é o que “Tropa de Elite” diz que é.
. A favela é um lugar onde moram pobres e famílias de classe média.
. Que trabalham nas nossas casas com dignidade e vontade de subir na vida.
. No Rio – diferente de São Paulo -, a gente vê a favela e o favelado cara a cara.
. A PUC não é de cheiradores de cocaína nem de maconheiros.
. (Cheiradores de cocaína e maconheiros há em outras comunidades ali perto da PUC, de que o filme não trata.)
. A PM tem corruptos, como tem a Associação Comercial do Rio (e de São Paulo).
. O Bope tem torturadores, como houve nas Forças Armadas do Brasil.
. E nas Polícias do país afora.
. E em Nova York também.
. A cena de “Tropa de Elite” em que se ameaça enfiar um cabo de vassoura no ânus de um suspeito negro aconteceu na vida real, numa delegacia sob o comando de Rudy Giuliani, nos tempos em que ele era o “Adolf” Giuliani...
. O Rio não é assim.
. Tanto não é que o Rio resolveu enfrentar o tráfico como tem que ser: o Estado reassume o controle físico da área controlada pelos traficantes, e, em seguida, chegam as obras sociais de reintegração da área ao conjunto da sociedade.
. Isso é o que acontece hoje no Rio.
. O filme é a exploração de um tema que Fernando Meirelles e a novela “Vidas Opostas” da Record já exploraram com mais qualidade.
. O filme se sustenta sobre duas farsas:
. Sobre o estereótipo do Rio.
. Ou seja, a tentativa de colar no Rio a imagem de uma cidade sem lei e sem alma.
. E, por isso – é a outra farsa -, só tem conserto com policiais sádicos, torturadores e facínoras, como os “heróis” do BOPE.
. Nascimento, Matias e Neto são revestidos de heróis, mas, coitados, de tão angustiados, merecem a nossa comiseração, malgrado seus "defeitos” e “excessos”.
. O sucesso de “Tropa de Elite” se deve, também, ao fato de recorrer à solução autoritária que está ao alcance da elite de hoje: o contingente policial honesto, porém mau.
. Isso é o que está aí, na prateleira, à disposição dos que se vestem de branco, “pela paz”, e saem pela praia de Ipanema, cansados de violência.
. Não é o fascismo, que saiu da prateleira.
. “Tropa de Elite” corteja também certo sentimento pessimista, que se aloja na elite branca - o “não tem mais jeito”, “o Brasil acabou”, “o Brasil é isso que está aí”, “o Brasil perdeu a chance de ser decente”.
. Sentimento que, em última análise, só encontra saída na ausência de saída: no autoritarismo das “milícias” vestidas de Bope.
. Os “heróis” de “Tropa de Elite” são os mesmos militares torturadores que salvavam as nossas famílias e a nossa civilização da ameaça comunista.
. Agora, nos salvam dos narcotraficantes.
. Num e noutro caso eles são apenas isso: torturadores que um dia enfrentarão a lei e o repúdio de uma sociedade civilizada.
. Não são eles que vão nos salvar e a nossas famílias do tráfico.
. Eles merecem ir para a cadeia, com os marginais que perseguem.
. A saída serão políticas sérias, de homens públicos sérios, policiais sérios.
. O resto, como dizia Caetano Velloso antes de entrar para a Globo, é bom para “a lente do Fantástico”. - Paulo Henrique Amorim em "Conversa Afiada"
quarta-feira, 26 de setembro de 2007
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