O Brasil já esteve no terceiro mundo, foi emergente e agora está no segundo mundo. Quem nos diz é Parag Khanna, cientista político, num livro de 466 páginas: Em português, O Segundo Mundo, Impérios e Influências na Nova Ordem Global (Random House).
Parag Khanna é da New America Foundation, já passou pelo Fórum Econômico Mundial, pelo Brookings Institute e outros think tanks e, em 2007, foi o "Senior" conselheiro geopolítico para o Comando de Operações Especiais dos Estados Unidos. Esta coluna é pequena para o currículo dele, mas, acredite, Khanna, com apenas 30 anos, está quente.
Inspirado na experiência de um historiador maior, Arnold Toynbee, Parag Khanna passou dois anos viajando pelo mundo colhendo informações e impressões em quarenta países para seu livro e, apesar de suas conexões americanas e de sua origem indiana, o historiador não é otimista sobre os Estados Unidos nem sobre seu próprio país.
O declínio americano foi precipitado pelos últimos oito anos de Bush, mas não é culpa do presidente. Foi vítima da globalização a partir da década de 80. A história e os eventos são contra o império americano. A Índia, seu país de origem, é uma bagunça que nunca chegará a ser a China.
O mundo de Parag Khanna está dividido geograficamente em cinco partes e, geopoliticamente, em três: os impérios - Estados Unidos, China e União Européia. Há um segundo mundo com 40 países, entre eles o Brasil. E o resto.
Passei uma tarde com o historiador no apartamento dele em Nova York e ele me disse que a União Européia é o império mais popular e bem sucedido de toda história porque não domina. Disciplina. A cada ano, admite pelo menos mais um país novo, sem nenhuma conquista militar. Os candidatos brigam para entrar no império.
O sonho americano foi substituído pelo sonho da União Européia com seus programas sociais, sua inclusividade e sua posição geográfica entre os Estados Unidos e o Leste Europeu. Tudo conspira a favor dos europeus.
E a Rússia?
Uma ilusão. Putin parece um líder mundial, mas é só cair o preço do petróleo e do gás que a Rússia deixa de ser importante. Só tem duas cidades prósperas - Moscou e São Petersburgo - e está cheia de conflitos internos mal resolvidos. Nunca será império nem sonho de outros paises.
E qual é o sonho chinês? Com quem sonha a China?
Com a Alemanha do pós-guerra, industrial, próspera, engenheira, exportadora.A China pensa como império, mas sem ambições militares. Um império comercial.
E a Índia, seu país de origem?
Não tem a menor chance de ser império. A Índia é uma bagunça. Economicamente desigual, burocrática e democrática, mas é uma democracia que emperra mais do que avança. Tudo é difícil e apesar das aparências, o investimento externo é pequeno. Entra mais dinheiro em Hong Kong num ano do que na Índia inteira.
E qual é o sonho islâmico?
Não existe, porque não há uma identidade islâmica. Há uma coleção de países com interesses diferentes, com freqüência, opostos.
E o sonho do Hugo Chávez?
É o sonho bolivariano. Só ele pode explicar, mas não sei se é socialista, marxista ou leninista. Chávez é confuso, que faria sem petróleo?
O Brasil está no time que sonha com uma sociedade européia e, diz ele, está entre os três paises que mais gostou e mais o impressionaram nesta pesquisa.
A política do país não-alinhado está morta. Foi substituída pela política dos países multi-alinhados. O Brasil joga, e bem, com os três impérios.
Tem tudo para dar certo. - Colunista da BBC Brasil
quinta-feira, 10 de abril de 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário