Levantamento do Fundo Monetário Internacional (FMI) apresentado ontem aos líderes da ONU comprova que o etanol brasileiro não seria o responsável pela alta nos preços dos principais alimentos. O estudo, revelado pelo vice-diretor-geral do FMI, o brasileiro Murilo Portugal, aponta o etanol americano e europeu como responsável por parte da inflação no setor.
Portugal anunciou que a entidade tentará socorrer os países mais afetados pela alta nos preços dos alimentos. Ele afirmou que está sendo criado um plano de financiamento para ajudar 12 países africanos a lidar com os crescentes déficits em suas contas correntes por causa da importação de alimentos.
O representante do FMI apresentou ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, um estudo do Fundo sobre os impactos do etanol. “O etanol brasileiro não compete com a produção de alimentos. O Brasil não subsidia e tem terras suficientes”, afirmou. “No caso da produção do milho, dois terços da alta nos preços desde 2005 é provocada pela expansão nos Estados Unidos e Europa. No caso da soja, metade da alta também se deve ao etanol americano. O custo do trigo aumentou também e um terço é causado pelo etanol”, explicou Portugal.
De acordo com o estudo do Fundo, a alta histórica do arroz não tem relação nem com o etanol brasileiro nem com os biocombustíveis europeus e americanos. “20% da alta é gerada pelo petróleo e 80% por outros fatores”, disse.
Segundo Portugal, a alta em geral é conseqüência da maior demanda por alimentos na China e Índia, redução de estoques e quebra de produção. O custo de energia também é importante. “Os fertilizantes triplicaram de preço e os custos de transporte duplicaram”, disse. “A situação é preocupante e o choque dos preços é sério”, alertou Portugal. “Nossa avaliação é de que a alta nos preços dos alimentos já está causando um desequilíbrio nas contas comerciais dos países mais pobres equivalentes a 1% do Produto Interno Bruto.”
Apesar de destacar a crise de alimentos, Murilo Portugal alerta que um problema ainda mais sério para as balanças comerciais é o preço recorde do petróleo. “Sobre a energia, a reunião não falou tanto. Mas a realidade é que os problemas decorrentes da importação do petróleo são ainda maiores que o déficit de alimentos”, disse.
Na África, o déficit comercial já chega a 2% do PIB com o preço do petróleo. “O resultado é que, juntos, os alimentos e energia estão causando um déficit nas contas comerciais dos países africanos equivalentes a 3% do PIB.” - O Estado de S. Paulo, hoje.
quarta-feira, 30 de abril de 2008
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