quarta-feira, 14 de maio de 2008

Rockefeller e o petróleo verde

O clã, incluindo crianças e cônjuges, tem 242 pessoas, mas os adultos descendentes diretos do homem mais rico do país na virada do século são 78.
Destes, 66 já assinaram um documento dirigido à ExxonMobil - uma das filhas da gigante Standard Oil, criação de John Rockefeller, mãe de todos os monopólios - exigindo, entre outras coisas, mais empenho da companhia em energia renovável, mais preocupação com aquecimento global e menos poder ao presidente da companhia, que acumula os dois cargos mais altos da empresa.
Vários membros da família tem milhares de ações da ExxonMobil, mas não representam nem 1% do total e, desde 1911, nenhum Rockefeller participa da direção da empresa.
Este talvez seja um dos motivos desta extraordinária união da família Rockefeller, que nunca foi dona de uma empresa nem teve brigas de partilhas. Estão na sexta geração, se reúnem duas vezes por ano e nenhuma outra família de bilionários se manteve tão unida e influente por tanto tempo nos Estados Unidos.
Desde criança o incentivo é na discrição, no trabalho, estudos e filantropia. Há Rockefellers brilhantes e influentes, mas muitos não usam o nome da família.
São campeões em doações e David Rockefeller acaba de doar US$ 100 milhões a Harvard, a maior na história da universidade.
Filhos não brigam com pais por causa de mesadas e mordomias. Nunca houve um Rockefeller playboy, segundo Kissinger, amigo da família.
A jovem geração briga por mais ação social.
Peggy, filha de David, o único neto vivo do patriarca, rompeu com o pai, na época presidente do banco Chase, entre outras atribuições, e foi morar com uma família na Rocinha. A barra já era pesada.
Quando entrevistei o pai infelizmente ele já não se lembrava dos detalhes do almoço com a filha e a família da Rocinha, mas achou a casa da favelada limpa e apreciou o tempero.
Pouco depois, pai e filha fizeram as pazes e, quase sempre com ajuda dele, Peggy se dedicou a causas sociais e filantrópicas, muitas delas no Brasil, no combate a pobreza e pelo controle de natalidade.
Costumo ir à casa de amigos vizinhos de Larry Rockefeller, um dos tataranetos, numa fazenda a duas horas de Nova York.
A família Rockefeller sempre teve soluções legais e espertas para não dar dinheiro para o governo, nem mesmo quando o governador era um Rockefeller, como foi o caso de Nelson, em Nova York. São republicanos, detestam impostos.
Na década de oitenta, Larry Rockefeller começou a comprar fazendas e terras na área de Livingston Manor, uma paisagem arrebatadora, numa região histórica com lindas fazendas de gado, mas em decadência geral por causa de mudanças em subsídios agrícolas.
Ele comprou mais de 20 mil acres, acabou com todos os motéis chinfrins, restaurantes de beira de estrada e construções baratas. Aos poucos criou uma espécie de Disney ecológica do século 19 sem nenhum interesse em atrair turistas ou gente de fora.
Com a área limpa, ele dividiu a terra em lotes e ofereceu aos amigos, quase todos milionários.
Para a esquerda Rockefeller é tubarão. Aqui é sinônimo de qualidade. Os compradores se organizaram numa sociedade, uma espécie de condomínio aberto, mas é fechadíssimo. Dinheiro não compra cota. O acre que Rockefeller comprou por mil dólares hoje vale mais de 20 mil.
Nem um prego é martelado sem a permissão de Larry, que percorre a região como se fosse um lavrador, com roupas velhas e meias furadas.
Além de fazer fortuna com a venda das terras que ficam cercadas de reservas estaduais, ele doa terras para o governo. Isto não só abate os impostos como valoriza as terras dele porque ficam protegidas contra vizinhos indesejáveis.
Com certeza existe Rockefeller pateta, mas se a família está disposta a apostar no verde, pode ter certeza que, além da boa causa, é bom investimento. - Lucas Mendes, BBC Brasil.

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