terça-feira, 26 de julho de 2011
Amy Winehouse e os caminhos do soul
No palco do Brit Awards de 2007, Amy Winehouse estava irresistível metida num vestido vermelho. Backing vocals negros batiam palmas enquanto executavam uma coreografia ensaiadinha e músicos vestidos de smoking duelavam com a voz rouca da cantora. O cabelo ajeitado em um topete gigante e aqueles olhos de Cleópatra moderna eram o que de mais estranho poderia maparecer no cenário musical da primeira década do século 21. Tudo na apresentação exalava uma nostalgia de agulha deslizando num vinil em plena era mp3. Era como se o elenco feminino negro inteiro da fase áurea da gravadora americana Motown (ou Atlantic Records) encarnassem no corpo daquela garota branca, judia e britânica. Um ser estranho em meio a um cenário musical de loirinhas rebolativas de voz fraca da marca de Britney Spears.
Amy fez questão de reverenciar aquela geração na onda retrô que ela iniciou. Cantou Heard it through the grapevine, de Marvin Gaye e gravou It’s my party (a última que lançou) em tributo a Quincy Jones. Agora que o desfecho anunciado se concretizou e a artista morreu prematuramente, o duro é admitir que a maior quantidade de arquivos que nos restou são os inúmeros vídeos de apresentações em que ela estava bêbada ou drogada e apresentando apenas 1% das habilidades vocais. Pouquíssimas gravações foram trazidas a público em que o talento da inglesa está à frente da distorção das drogas.
Winehouse produziu apenas dois álbuns Frank (2003) e Back to black (2007). O segundo álbum vendeu mais de 38 milhões de cópias no mundo todo e recebeu cinco prêmios Grammy. “Eu só sei cantar isso”, declarou certa vez sobre a obsessão em se manter fiel ao gênero soul. O lançamento do terceiro disco foi anunciado e adiado várias vezes.
Sua última gravação em estúdio teria sido no lendário Abbey Road (o estúdio dos Beatles) em março. Ela e Tony Bennett gravaram o dueto Body and soul.
Isto ainda não é toda a herança da diva trash da agora famosa Camden Square. A volta do vozeirão negro está no timbre de Adele, Janelle e aquela que ela escolheu para apadrinhar, Dionne Bromfield, uma adolescente de 15 anos. São todas intérpretes mais novas ainda do que os 27 anos que Amy tinha quando morreu. Apareceram cantoras melhores do que A.W? Certamente sim. Mas, Amy Winehouse teve estilo único.
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